Não desceram do ônibus na Esplanada dos Ministérios para fazerem dali o curto trajeto até o Congresso Nacional, em Brasília. Mesmo o trecho de 16 km do inicio do Eixo Monumental até a Praça dos Três Poderes seria pouco para caracterizar como “marcha” – diferentemente das atividades que estão em voga na agenda de atividades dos movimentos populares no Brasil e que recebem esse nome – o tamanho da jornada a que se propuseram. Ali são quase 250 km, entre Goiânia a Brasília, de chinelos, sandálias ou mesmo pés descalços que os cerca de 1200 trabalhadores e trabalhadoras rurais convocados pelo Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) caminham para debater com as autoridades governamentais, e com o conjunto da sociedade brasileira, uma concepção atualizada e desafiadora da questão agrária brasileira – a reforma agrária do século XXI.
“É pesado mesmo, meu filho. Já tá me doendo o ´espinhaço´, mas vamos firme que a gente chega”, afirma dona Ciça, 58 anos, enquanto toma fôlego e segue com passos convictos e ficando para trás na fileira da Marcha, no segundo dia da caminhada, 27 km entre Teresópolis e Anápolis. É nessa cidade goiana de 400 mil habitantes que a “Marcha da Reforma Agrária do Século XXI – Aperte a mão de quem o alimenta” descansa na Feira Coberta desde o meio-dia de quarta-feira, dia 24, para nesta sexta-feira, dia 26, iniciar às 5h da madrugada um longo trajeto de 30 km até a próxima parada, na cidade de Abadiânia.
Dona Ciça veio de Barreiros, interior de Pernambuco, numa viagem de 48 horas de ônibus com a delegação de camponeses daquele Estado para se juntar ao grupo em Goiânia e dali enfrentar o desafio de tão longa caminhada. “Tô preocupada com a minha hortinha lá em casa, porque as minhas meninas tem as atividades delas e não sei se vão cuidar direito. Mas eu avisei: ´Vou com o Movimento andar no mundão uns dias, minhas filhas, e depois volto”, conta sorridente.
O sacrifício e superação por parte dos marchantes caracterizam esse processo de legitimação do debate da importância e da necessidade de construir uma reforma agrária que seja uma política de estado para a superação da pobreza no país, e não apenas uma política de compensação das mazelas que o agronegócio gera na agricultura familiar brasileira. “Uma reforma agrária do século XXI deve valorizar os assentamentos, proporcionar condições de produção e agregação de valor, produzir a partir de métodos agroecológicos, sem veneno e preservando o meio-ambiente, criando condições para dignificar, valorizar o agricultor no meio rural. Empresas Agrícolas Comunitárias e políticas específicas para a mulher e para a juventude rural são formas de cumprir esse papel”, analisa a coordenadora nacional do MLST, Vânia Araújo.
A atmosfera que envolve a caminhada é um retrato de uma experiência política e social singular. A “Marcha da Reforma Agrária do Século XXI” é uma espécie de ritual de longa duração que busca comunicar com a sociedade e o governo os propósitos de um projeto político para a reforma agrária que estão em consonância com o atual cenário do campo brasileiro.
O dia-a-dia dos marchantes não deixa de apresentar tensões e muitas dificuldades. Nos últimos cinco quilômetros antes do local de concentração em Anápolis um caminhão teve que levar pouco a pouco os militantes já exaustos sob o sol forte do início da tarde. Dias longos, noites curtas, as refeições, às vezes magras e às pressas, nem sempre são suficientes. No entanto, à medida que a Marcha avança, uma melhor estrutura e logística é estabelecida. A água para o banho faltou no primeiro dia, mas na Feira Coberta havia inclusive banheiros químicos e as equipes de limpeza e higiene deixavam o local em completa ordem.
PRESENÇA DO DEPUTADO FEDERAL ELVINO BOHN GASS
O deputado federal Elvino Bohn Gass, Secretário Nacional Agrário do PT e membro titular da Comissão de Agricultura da Câmara Federal, participou na tarde desta quarta-feira, dia 24, de uma mesa de debates sobre assentamentos de reforma agrária no acampamento da Marcha, em Anápolis, juntamente com o prefeito da cidade, Antônio Gomide.
“O lema desta Marcha é um resumo fundamental: apertar a mão de quem alimenta o Brasil, do agricultor familiar, é a valorização necessária para a reforma agrária no Brasil”, disse o deputado. Bohn Gass, que organiza um seminário nacional sobre juventude rural no final deste mês, destacou que “um dos grandes desafio da agricultura familiar é a sua própria continuidade e por isso é preciso dar mais atenção aos jovens que vivem no meio rural”. O debate animou os marchantes que ao final entoaram lemas e convidaram o deputado a estar presente na chegada da Marcha em Brasília, no dia 6 de setembro.
Nesta quinta-feira,dia 25, os marchantes participaram de uma capacitação em agroecologia e produção orgânica de alimentos na Escola Agrícola de Anápolis. Uma manha de troca de informações e aprendizagem numa oficina coordenada pelo secretário de Meio Ambiente e Agricultura do município, Luiz Henrique Fonseca.
Confira algumas das próximas paradas da “Marcha da Reforma Agrária do Século XXI” a partir deste sexta-feira, dia 26:
26/8 - Trecho: Anápolis - Abadiânia
Distância: 30 Km
27/8 - Trecho: Abadiânia – Alexânia
Distância: 30 Km
29/8 - Trecho: Alexânia – Povoado do Engenho
Distância: 25 Km
30/8 - Trecho: Povoado do Engenho – Divisa Goiás/Brasília
Distância: 25 Km
31/8 - Trecho: Divisa Goiás/Brasília - Samambaia
Distância: 25 Km
Programação completa:
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