REFORMA AGRÁRIA DO SÉCULO XXI NO COMBATE A POBREZA


O Brasil tem mais de 150 milhões de hectares de terras agricultáveis a serem incorporadas ao processo produtivo, o que constitui a maior reserva de solo do planeta. Paradoxalmente, é também o maior concentrador de terra do mundo. Além do potencial de terra é, também, o País com a maior reserva de água doce. Todo esse potencial natural coloca o Brasil como o celeiro mundial de alimentos. Hoje somos o terceiro maior produtor de alimentos, podendo ser em curto espaço de tempo, o maior produtor.

Duas janelas de oportunidades para o Brasil no século XXI estão interligadas com o mundo rural porque o país é competitivo mundialmente em terra e água. Estamos falando do potencial energético e de alimentos.

A temática da segurança alimentar vem tomando corpo no debate mundial, seja pela luta para acabar com a fome de milhões de pessoas, seja para garantir a qualidade dos alimentos, com a produção orgânica, sem utilização de defensivos agrícolas e, a questão da preservação ambiental. Finalmente, sobre a qualidade do trabalho: como eles são produzidos com respeito ao ser humano.

Mesmo com os avanços dos 8 anos do Governo Lula no meio rural, não conseguimos atacar o problema central do ponto de vista econômico e social dos assentamentos de reforma agrária e da agricultura familiar e comunitária: a produção com a agregação de valor. E do ponto de vista social: acesso as políticas públicas de forma permanente e contínua.

Essa tarefa ficou para o Governo Dilma que assumiu o enorme desafio de erradicar a pobreza e a miséria no Brasil até 2014. Nesse sentido, os assentamentos de reforma agrária, a agricultura familiar e comunitária, juntos com os pequenos produtores rurais cumprem um papel estratégico para alcançar esse objetivo e avançar na transformação social do País.

No último período, o agronegócio ganhou um destaque nacional por se apresentar como grande produtor do meio rural e pelo superávit da Balança Comercial brasileira. No entanto, é necessário identificar a produção real do agronegócio, sem agregar o volume de produção dos assentamentos, da agricultura familiar e dos pequenos e médios produtores rurais que hoje fornecem seus produtos para as empresas do agronegócio. Existem vários exemplos espalhados pelo País.

Mesmo, assim, os dados do quadro abaixo, já demonstram hoje a importância da reforma agrária e da agricultura familiar no combate a pobreza e a miséria no campo e na cidade, com a produção de alimentos e geração de renda e emprego.

O perfil de crescimento recente do Brasil está voltado para o mercado interno de consumo de massa, com forte criação de empregos formais. Os últimos indicadores de geração de empregos formais do país foi recorde, nos setores de serviços, indústria e comércio. O único setor que apresentou declínio foi o agronegócio com um crescimento negativo de 2,5%,mesmo com as commodities em alta.

Apenas um projeto de desenvolvimento integrado campo/cidade tem condições de superar esse problema social. É necessário incentivar as políticas de desenvolvimento no interior do País, através de Pólos de Desenvolvimento Regionais, gerando emprego e renda, garantindo a sobrevivência das pessoas em sua região de origem e evitando a migração para os grandes centros urbanos, que contribui para o caos da organização social das principais capitais do País.

Por isso, que nesse cenário de inclusão social e produtiva, o campo brasileiro cumpre um papel estratégico. Mais, especificamente, os assentamentos e a agricultura familiar, responsáveis por 74,4% da mão-de-obra do campo e por 70% da produção de alimentos básicos.

Os dados mostram que houve uma queda de 60% da taxa da pobreza extrema entre 2003 e 2008, por isso é factível zerar a pobreza extrema no Governo de Dilma. Mesmo com todo o empenho do Governo Lula de equiparar o desenvolvimento entre as regiões, o Nordeste ainda representa 55% da distribuição do Programa Bolsa Família e tem a maioria absoluta dos pobres rurais do País. Hoje o Nordeste brasileiro tem 50% dos estabelecimentos da agricultura familiar (incluindo as famílias assentadas) e 35% dos estabelecimentos em geral.

Segundo os dados do IPEA, em se tratando das grandes regiões geográficas do Brasil, em continuando o ritmo atual de queda do índice de pobreza, em 2016 a Região Sul poderá ser a primeira a superar a pobreza absoluta, enquanto que a região Nordeste (no mesmo ano) poderá ter 28% da sua população em condição de pobreza absoluta.

No entanto, para erradicar a miséria ou a pobreza absoluta até 2014 é preciso realizar pesados investimentos que vão além de uma política de transferência de renda mínima. É necessário melhorar os indicadores sociais: expectativa de vida; taxa de mortalidade; taxa de mortalidade infantil; taxa de analfabetismo; renda nacional bruta; saúde; alimentação; condição médico-sanitárias e melhorar a qualidade de vida com acesso ao consumo e inserção produtiva.

É necessária a universalização das políticas públicas no interior do país. O acesso a educação (profissional, ambiental e nutricional), saúde, saneamento básico, cultura, lazer e políticas de incentivo a produção, são fundamentais para a construção de uma cidadania popular, calçada no empoderamento das comunidades.

O MLST acredita e defende os seguintes pontos:

1. Acredita nos Pólos de Desenvolvimento com a agroindustrialização da produção através da Empresa Agrícola Comunitária com uma gestão participativa.
2. Acredita que a enorme tarefa de fazer a reforma agrária não depende só do governo ou dos movimentos sociais. É necessário unir governo, movimentos sociais e a sociedade civil.
3. Acredita, também, que além da distribuição de terra, é necessário garantir a autonomia e o empoderamento dos trabalhadores e trabalhadoras. É preciso articular um conjunto de ações econômicas, sociais, culturais e ambientais para o pleno exercício da cidadania popular.
4. Acredita que para ter autonomia econômica é necessário agregar valor a produção e disputar o mercado com produtos de excelente qualidade, com selo social e ambiental e fazer a disputa de hegemonia com o agronegócio.
5. Acredita, também que sem a participação dos jovens e das mulheres no processo de decisão o desenvolvimento não será sustentável.
6. Acredita que sem educação, tecnologia, cultura, esporte e lazer os projetos de assentamentos não terão condições de garantir o desenvolvimento intelectual e social da comunidade.
7. Acredita na educação ambiental como forma de garantir o desenvolvimento sustentável, preservando e ampliando as áreas de preservação, através do projeto de manejo e extrativismo.
8. Acredita no fortalecimento das organizações sociais dos trabalhadores(as) no controle social para a construção da Cidadania Popular e a governabilidade transformadora do País.

A maioria dos Estados onde estamos organizados se encontra no Nordeste, região que apresenta o maior índice de desigualdade social e, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Tocantins onde se concentra de forma mais cruel a ofensiva do agronegócio, deixando como mazelas o trabalho escravo, a degradação ambiental, a monocultura, alto índice de morte por estresse de trabalho. Por tudo isso, é necessário fazer a disputa de hegemonia com a apresentação de um novo modelo de desenvolvimento com justiça social, viabilidade econômica e democratização da terra, através dos assentamentos de reforma agrária, agricultura familiar e implantação das Empresas Agrícolas Comunitárias.


OS DESAFIOS DA REFORMA AGRÁRIA DO SÉCULO XXI NO COMBATE A POBREZA

Proposta do MLST para o Campo Brasileiro

O modelo de reforma agrária do século XX foi superado, por três razões fundamentais: a primeira porque o principal inimigo da reforma agrária não é mais o latifúndio improdutivo, mas sim o agronegócio que articula poderosos interesses econômicos, políticos e sociais, fazendo combate contra a reforma agrária tanto no plano institucional (Executivo, Legislativo e Judiciário), quanto na opinião pública através do controle da grande mídia. Segundo, não conseguiu superar o desafio do desenvolvimento econômico e social das áreas de reforma agrária e agricultura familiar. Terceiro, o Estado no Brasil não foi concebido para fazer a reforma agrária e, apesar dos esforços, não conseguimos mudar os marcos legais, os métodos e a concepção em nível suficiente para destravar a reforma agrária.

Vivemos o início de um novo ciclo de luta pela transformação da estrutura agrária no Brasil: a Reforma Agrária do Século XXI. Nesse momento de crise do capital, onde o problema ambiental e alimentar coloca em risco a sobrevivência da humanidade no Planeta, o Brasil como país que detém a maior área de terras agricultáveis e a maior concentração fundiária do mundo, precisa assumir como prioridade absoluta a transformação da sua estrutura Agrária.

Por isso, apresentamos uma nova forma de organização econômico-social do meio rural, com a implantação de Acampamentos Produtivos, Assentamentos Inteligentes, Pólos de Desenvolvimento e a Empresa Agrícola Comunitária. É o que chamamos de Reforma Agrária do Século XXI. Essa nova forma de organização política econômica e social, trás em sua essência a valorização do ser humano e a construção de uma vida digna no campo.

Para o campo brasileiro é necessário implantar um novo modelo de reforma agrária. Não podemos conviver mais com a atual situação degradante de acampamento que coloca as famílias em condições subumanas, onde a única fonte de recurso é o Programa Bolsa Família. Sem segurança alimentar, porque as cestas básicas não têm regularidade e qualidade, sem acesso a educação, saúde, com insegurança permanente de uma ação de despejo e acidente nas rodovias envolvendo as crianças e os idosos. O mais grave é que, essa situação não é passageira e na maioria dos casos, esse processo leva de 5 a 10 anos. Nem podemos conviver mais com o modelo atual de assentamentos de reforma agrária que não garante o desenvolvimento econômico, produtivo, social, ambiental e o acesso as políticas públicas. Esse modelo de reforma agrária está superado.

A Empresa Agrícola Comunitária começa a se constituir a partir da criação do Acampamento Produtivo, que tem como objetivo envolver todos os parceiros governamentais e não governamentais, a sociedade civil e, principalmente, a comunidade acampada (desde a criança ao idoso) no processo de autoconhecimento e autogestão solidaria. Esse é um grande desafio para o conjunto dos movimentos do campo e da cidade na construção de um novo mundo rural brasileiro com menos concentração de terra e riqueza e com mais democratização de terra, produção e justiça social.

Como o próprio nome já indica o Acampamento Produtivo, será um espaço permanente de produção de alimentos e idéias. Para isso, a parceria institucional é fundamental, porque em várias áreas onde ele provavelmente vai ser implantado, será uma área pública. Assim, a situação de moradia, educação, saúde e programas de incentivo a produção e comercialização, como por exemplo, o Programa do PAA poderá ser acessado pelas famílias. O prazo máximo para esse primeiro estágio do trabalhador rural como pré-assentado não deve ser superior a 1 ano. Toda a infraestrutura (social e comercial) construída por ele naquele local será usufruída por novas famílias, porque aquelas primeiras famílias serão deslocadas para as áreas definitivas para implantarem o Assentamento Inteligente.

Depois do processo de aprendizagem com o Acampamento Produtivo, as famílias colocarão em prática todo o seu conhecimento nas áreas de produção e comercialização, organização social, preservação ambiental, no Assentamento Inteligente. Com uma unidade produtiva (terra) reconhecida pelo Governo Federal (MDA/INCRA) essas famílias darão um passo superior na constituição de empreendimentos comunitários para agregar valor a sua produção, através do beneficiamento de seus produtos. O Assentamento é Inteligente, porque as famílias já passaram pelo processo de adaptação a uma convivência em comunidade, organização de uma produção e comercialização planejada, organização social, aprendendo a importância da preservação ambiental e do conhecimento de seus direitos e deveres, no processo de contribuição para o desenvolvimento sustentável do Brasil.

O passo seguinte é a implantação das Agroindústrias Comunitárias nos Pólos de Desenvolvimento. Apresentamos essa necessidade de constituição de Pólos de Desenvolvimento por dois motivos: o primeiro porque possibilita a articulação dos projetos de assentamentos, da agricultura familiar e dos pequenos produtores rurais, alcançando um maior volume de produção para beneficiamento; segundo, porque possibilita a agregação de valor e contribui para o desenvolvimento das comunidades no plano político, econômico e social.

Essas três formas de organização das forças populares no campo brasileiro se articulam para constituir o que chamamos de Empresa Agrícola Comunitária, esteio fundamental da Reforma Agrária do Século XXI.


PAC PELA REFORMA AGRÁRIA E AGRICULTURA FAMILIAR NO COMBATE A POBREZA

A constituição do PAC Contra a Pobreza, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social, coloca um grande desafio para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Isso se dá porque o MDA representa o público mais afetado pela desigualdade social: acampados(as); pré-assentados(as); assentados(as) de reforma agrária; agricultura familiar; comunidades tradicionais e, pelos dados que mostram que a imensa maioria da pobreza extrema do Brasil, se concentra no meio rural.

No entanto, o público do MDA tem uma base organizada e mobilizada, por isso, a participação dos movimentos sociais nesse processo de combate a pobreza é imprescindível.

A interface das áreas do governo é de fundamental importância no que se refere a agilização dos programas emergenciais, na otimização dos recursos públicos, no acesso as políticas públicas e na consolidação e transformação do meio rural brasileiro, considerando a transversalidade de gênero, geração, raça e etnia.

Para tanto, é necessário a constituição de um PAC da Reforma Agrária e Agricultura Familiar, visando a integração de todos as áreas do governo nas políticas a seguir:

Agrária
a) Destravar a Reforma Agrária com as seguintes medidas:
 Readequação do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) para as necessidades da Reforma Agrária do Século XXI.
 Reestruturação do INCRA.
 Destinar um percentual do Programa do Pré-Sal para Reforma Agrária
b) Resolução dos problemas que os Movimentos consideram as principais dificuldades políticas para a agilização da reforma agrária:
 Índice de Produtividade
 Função Social da Terra
 Limite de Propriedade
 Descriminalização dos Movimentos Sociais
 Regulamentar e Implementar a PEC do Trabalho Escravo – PEC 438/2001
 Revisão do Novo Código Florestal que dá ênfase aos interesses do agronegócio.

Segurança Alimentar
a) Estabelecer Políticas Estruturantes para Garantir a Segurança Alimentar:
 Incluir os produtores agrícolas nas áreas Peri-urbanas (região metropolitana) no PNRA.
 Transformar o Programa PAA em Lei (Política Pública).
 Transformar o Programa Formação de Estoque em Lei (Política Pública).

Educação
a) Construção de um plano nacional de educação no campo, que atenda aos seguintes princípios:
 Erradicação do Analfabetismo
 Criação de escolas profissionalizantes adequadas as necessidades dos territórios
 Potencializar a participação das universidades públicas no processo de erradicação do analfabetismo e melhoria da qualidade da educação do campo.
 Educação Ambiental voltada para o público específico das áreas de reforma agrária e agricultura familiar com ênfase no desenvolvimento sustentável.

Saúde:
a) Universalizar a saúde no campo e melhorar a qualidade, com efetiva implantação do SUS nas áreas rurais brasileiras;
b) Criar mecanismos para que todos os programas de saúde pública tipo; prevenção do câncer de mama, colo do útero, câncer próstata, Brasil sorridente, etc...) sejam viabilizados dentro das áreas rurais.
c) Criação dos agentes rurais de saúde.
d) Criação de UPA’s (Unidade Pronto-Atendimento) para famílias que vivam no campo.

Direito e Cidadania:
a) Criar um programa para o combate ao trabalho escravo e fortalecer e ampliar o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.
b) Abrir discussão sobre os enquadramentos da aposentadoria rural
c) Revisão dos critérios de aposentadoria dos trabalhadores rurais, que torna inviável a comprovação da qualidade de segurado especial.
d) Instituir uma política nacional que garanta o registro de nascimento e outros documentos para as famílias das áreas rurais mais distantes (Ribeirinhos/Quilombolas/Povos da Floresta)

Meio ambiente:
a) Formatar projetos e programas para o meio ambiente voltados para agricultura familiar e comunitária que permitam através de diversos mecanismos tais como: venda de crédito de carbono, venda de mudas, exploração agroflorestal, sistema de manejo, que tornem mais vantajoso economicamente a manutenção das áreas de reservas existentes e a recuperação das áreas degradadas.
b) Criar um programa especifico de licenciamento para áreas de Reforma Agrária e Agricultura Familiar.

Infraestrutura:
a) Criação de um programa nacional de infraestrutura econômica e social rural, que contemple estradas, energia, habitação, saneamento básico, logística (criação de Centros de Distribuição Territorial, para assentados da Reforma Agrária e Pequenos produtores).
b) Criação de mecanismo de gestão que agilizem a liberação do Crédito Habitação para área de reforma agrária.
c) Ampliar o valor do Crédito Habitação de R$ 15.000,00 para R$ 21.000,00.
d) Extensão do programa Minha Casa Minha Vida para área rural para beneficiários acima de 4 módulos fiscais, visando a erradicação de moradia precária (taipa e cabanas), atendendo uma faixa mais extensa dos agricultores familiares.

Tecnologia:
a) Constituir um programa de Inclusão Digital no campo (inserir um tópico no Programa Nacional de Banda Larga - PNBL), com instalação de antenas via rádio.
b) Criar um programa que congregue a EMBRAPA/Ministério de ciências e tecnologia/ Secretarias Estaduais de Ciências e Tecnologia e órgãos afins para desenvolver projetos de tecnologia aplicada aos pequenos produtores.
c) BNDES passe a financiar maquinário para projetos comunitários de agregação de valor, bem como maquinas para reforma agrária e agricultura familiar.

Juventude:
a) Discussão entre a secretaria Nacional de juventude e os movimentos sociais do campo para ampliar e adequar Plano Nacional de Juventude as necessidades da Reforma Agrária e da Agricultura Familiar.
b) Ampliação do Pró-jovem rural
c) Implantação no meio rural dos diversos programas federais para jovens.

Esporte:
a) Programa nacional de esportes para assentados da Reforma Agrária e agricultura Familiar, que tenha como princípios a socialização das crianças e jovens rurais
b) A construção de equipamentos esportivos e de laser
c) Acesso aos programas e projeto esporte, que articule o Ministério do Esporte e as Secretarias de Esporte dos estados e municípios.

Turismo:
a) Plano nacional de Turismo rural;
b) Financiamento do BNDS para áreas de Reforma Agrária e Agricultura Familiar que tenham vocação para essa atividade.

Cultura:
a) Editais específicos de cultura para áreas de reforma agrária e agricultura familiar.
b) Definir Pontões de Cultura para os Pólos de Assentamentos;
c) Criar Telecentros nas áreas de assentamento.

Institucional:
a) Constituição de um marco legal para empreendimentos comunitários e solidários;
b) Programa de Assistência Técnica para as associações, cooperativas e empreendimentos comunitários e solidários no campo. (adequação legal ao código civil, escrituração contábil, fiscal, etc..)
READEQUAR O PLANO NACIONAL DE REFORMA AGRÁRIA PARA A REFORMA AGRÁRIA DO SÉCULO XXI

A Reforma Agrária do Século XXI exige um conjunto de esforços articulados com a readequação do Plano Nacional de Reforma Agrária, que priorize a democratização da terra, que desenvolva os assentamentos e agricultura familiar e que seja ponta de lança do processo de erradicação da miséria.

A tarefa principal do MDA/INCRA e dos Movimentos Sociais na implantação da Reforma Agrária do Século XXI, é a readequação do Plano Nacional de Reforma Agrária – PNRA, baseado nas seguintes diretrizes:

1. Política de Recuperação de Assentamento de Reforma Agrária com base na organização da produção, da agregação de valor, da construção de empreendimentos comunitários articulados em Pólos de Desenvolvimento. Esta política de recuperação tem que dar conta do processo de endividamento dos trabalhadores rurais, da questão das licenças ambientais, da assistência técnica, incorporação de tecnologias, da infraestrutura econômica e social (estrada, saneamento básico, habitação, armazém, logística) e acesso a políticas públicas de crédito e de investimento com garantia de compra da produção, tais como o PAA, Compra Antecipada, Merenda Escolar, Formação de Estoque que permitam a estruturação econômica dos assentamentos e lhes dêem possibilidade de competir no mercado.

1. Universalização de Políticas Públicas de Saúde, Educação, Previdência e Assistência Social para assentamentos de reforma agrária e agricultura familiar.

2. Incentivar a Organização Comunitária, prestando assessoria técnica para readequar os estatutos, atas das associações no padrão do Novo Código Civil Brasileiro; identificar o número de jovens e sua atividade escolar e profissional; estimular a organização dos grupos de jovens e de mulheres nas diversas áreas: produtiva, cultural, profissional, etc.; estimular a criação de um Comitê Gestor Regional para debater as políticas públicas que envolvem a região onde os assentamentos estão inseridos; promover feiras regionais da agricultura orgânica dos assentados, agricultura familiar e pequenos produtores rurais.

3. Articular a liberação do Crédito Instalação no primeiro ano do Projeto de Assentamento articulado com os Programas do PAA do MDS: Compra Direta (R$ 8 mil/limite/ano – MDS/MDA); Apoio a Formação de Estoque (R$ 8 mil/limite/ano – MDS/MDA), Compra com Doação Simultânea (R$ 4,5 mil/limite/ano – MDS) e o PAA Leite(R$ 4 mil/limite/semestre– MDS). Com esse aporte financeiro as famílias assentadas terão condições de organizar sua produção, fortalecer sua organização social e estabelecer dialogo com a sociedade local. Considerando a liberação da sua totalidade do Crédito Instalação do INCRA (excluindo o Apoio Mulher e Semiárido porque é para uma região especifica), o valor seria R$ 9.600,00 + 24.500,00 dos Programas do PAA = 34.100,00/família, considerando o acesso a todos os programas do PAA no primeiro ano de implantação do projeto de Assentamento. Se o repasse dos recursos do Programa do PAA for 50% MDA e 50% MDS, o MDA/INCRA repassaria R$ 17.600,00 e o MDS R$ 16.500,00.

4. Criar atrativos governamentais para fomentar a organização comunitária (Empresa Agrícola Comunitária) dos meios de produção e comercialização.

5. Política de ATES – a Portaria da forma que foi publicada com a chamada pública nacional para empresas de assistência técnica trás prejuízos para as famílias e para os movimentos sociais. Com esse modelo qualquer empresa de qualquer parte do país pode prestar assistência técnica em qualquer área de assentamento, mesmo que não tenha nenhum conhecimento da cultura local, nem identidade com a reforma agrária. A nossa proposta é que no momento de elaboração do Edital de Convocação nos Estados, sejam incluídos alguns critérios para seleção, como: as áreas de assentamentos a serem atendidas sejam separadas em Pólos de Desenvolvimentos (territórios); que a empresa tenha atividade no território; que a empresa tenha relações com os movimentos sociais da região/local.

6. Licença Ambiental – A maior dificuldade é conseguir a Licença Ambiental para criação do Projeto de Assentamento. Existem vários Pré-Assentamentos espalhados no país, esperando a Licença Ambiental. Não é justo que as famílias sejam punidas por um crime ambiental que não cometeram. Porque o passivo ambiental na área é de responsabilidade do proprietário. Diante desse impasse, propomos:
 Construir Fórum com representantes do MDA, MMA, IBAMA, Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e movimentos sociais para definir política nacional de emissão de Licença Ambiental para os Projetos de Assentamentos;
 Criação de um Fundo de Recuperação da Reserva Legal em áreas de Assentamentos com o dinheiro descontado na avaliação e desapropriação do imóvel rural que apresente passivo ambiental, na hora da emissão das TDAs.
 Liberar imediatamente uma Licença Provisória de Funcionamento do Assentamento para as famílias terem acesso aos créditos e iniciarem sua produção. As famílias ficarão com a responsabilidade de recuperar a área degradada.
 Com o dinheiro do Fundo de Recuperação capacitar grupos de jovens e mulheres para fazer a recuperação das áreas degradadas.

7. Aquisição de Terra Lei 433 – criar critérios de seleção para compras das áreas, que preferencialmente atendam aos seguintes critérios: área próxima a infraestrutura; terra fértil; água; próxima a cidades; áreas próximas a assentamentos já constituídos e agricultura familiar, para criação de pólos de desenvolvimento.

8. Intensificar a Política de Regularização Fundiária (Reordenamento Agrário)
 Fazer uma Força Tarefa para identificação de áreas, vistorias e aceleração das desapropriações com intuito de resolver o grave problema das centenas de acampamentos pelo País com mais de 5 anos.
 Identificar e Destinar as terras públicas e griladas para acelerar a reforma agrária
 Mapear as Terras de Estrangeiros no território brasileiro, incluindo as terras de empresas brasileiras que tem a maioria de acionista estrangeiro.

9. Implantação do Acampamento Produtivo nos Estados onde estamos organizados – Projeto Piloto.

10. Implantação de Empresas Agrícolas Comunitárias (empreendimentos) – Projeto Piloto.


Desafios na Estrutura MDA/INCRA

No contexto atual da luta pela terra no Brasil, os órgãos responsáveis pela sua execução precisam superar a estrutura atual e criar uma política permanente de dialogo. Para isso, apresentamos as seguintes sugestões:

MDA
1. Estruturar uma Política de Governo para Reforma Agrária Unificadora para o conjunto dos instrumentos que executam a reforma agrária e a agricultura familiar.
2. Aprofundar o estudo sobre a realidade agrária no País.


INCRA
O órgão precisa passar por um processo de reestruturação, seja do ponto de vista técnico, organizativo, bem como do ponto de vista de uma concepção de reforma agrária como um projeto estruturador da sociedade em um governo democrático-popular. Para isso, propomos:

1. Novos parâmetros para os Servidores:
 Criar o Programa de Cargos e Salários
 Incentivo para Aposentadorias para os Servidores em idade
 Abertura de novos Concursos Públicos

2. Criar um departamento no INCRA responsável pela organização e acesso ao Programa PAA/Merenda Escolar e outras linhas de recursos institucionais.

3. Definir o perfil do Presidente do INCRA, dos Superintendentes Regionais e das Unidades Avançadas, comprometidos com a execução da Reforma Agrária.

4. Estruturar novo Modelo de Gestão com Planejamento, Execução e Controle em toda sua estrutura, pois atualmente não existem metas estabelecidas de vistorias, ou de quaisquer atividades do Instituto, não existem controle sobre o trabalho dos técnicos, entre outras problemas organizacionais que emperram a execução do órgão.

Neste documento destacamos os pontos que consideramos centrais para alavancar um novo modelo de reforma agrária que não se limite ao ato de distribuir terras, mas contempla todas as necessidades que a política de reforma agrária precisa para ser uma referência de inclusão social e desenvolvimento estruturador para nosso País.

Certamente, no decorrer do processo outras necessidades aparecerão e serão incluídas no projeto. No entanto, o foco central nesse momento, será aumentar a capacidade produtiva dos assentamentos e gerar renda para as famílias beneficiárias. Mas, o processo de organização social, a recuperação ambiental, o acesso as políticas públicas, melhoria das infraestruturas, são elementos centrais que deverão caminhar paralelamente ao desenvolvimento econômico e produtivo. Porque todas essas ações não estão apartadas do modelo de desenvolvimento sustentável que estamos apresentando. Elas são inseparáveis.